e onde ainda moram muitos de meus parentes.
Olho pra frente e vejo de repente se formar uma praia
em um lugar onde originalmente estaria o centro da cidade.
As ondas iam lentamente esbarrando nas paredes da casa da minha família.
Casa esta, grande de tamanho e de significado, onde meus avós maternos começaram a semear o que hoje vem ser nossa família.
Percebendo que as ondas iam acabar destruindo a casa
tive uma reação de descontrole.
Completamente desolada comecei a chorar desesperadamente.
Curvada no chão e berrando que a praia ia destruir tudo o que era nosso
e que meu avô não iria agüentar ver aquilo.
Ouvi entre um sorriso maroto um balbuciar que dizia:
- Conversa..
Exclamação esta rotineira do meu amado avô
quando fazia referência a alguma historia em que ele não estava acreditando
(mais precisamente era o modo delicado que ele tinha de dizer que era ‘mentira’).
Inclinei a cabeça e lá estava ele..
Com aquele mesmo sorriso com que nós deixou há alguns anos atrás
quando fez seu voou para uma morada muito especial.
E sem tirar o sorriso dos lábios estendeu sua mão a mim,
Ergueu-me do chão, cruzou meus braços em volta dos seus
e lentamente foi me conduzindo ate a casa.
Que a esta altura já estava em sua metade coberta pelo mar.
Parou em frente ao portão e em um gesto com as mãos me convidou a entrar.
Surpresa, perguntei como iríamos entrar.
Ele abre o portão dizendo:
- Vamos entrar.
Ainda incrédula e assustada eu consigo passar pelo portão coberto de água,
como se fosse alguma espécie de portal mágico.
Entro e vejo pela janela do corredor que lá estavam eles.
Todos eles!
Toda a minha família!
Tudo intacto e em seu devido lugar.
Os mesmos sorrisos, as mesmas gargalhadas, a mesma bagunça,
as falas altas e porque não dizer as mesma brigas também.
Tudo tudo tudo exatamente como acontece em todos os encontros da nossa família.
Mesmo anestesiada pela alegria de encontrar todos reunidos,
ainda tive a audácia de perguntar a ele:
- Mas então isso quer dizer que vamos morrer todos juntos.
E o sorriso do meu avô se estendeu mais ainda pelos lábios quase gargalhando para responder:
- Não minha filha. Quer dizer que o que importa, não é a casa,
mas sim o que esta dentro dela. O que faz a família não é uma casa,
mas as pessoas e o que elas têm dentro delas...
- aperta mais forte no meu braço e fala baixinho – é o que tem dentro de você.
E nada poderia finalizar aqueles ensinamentos tão bem
quanto o abraço acolhedor e aconchegante que ele me deu em seguida.
E como uma segunda cena entrelaçada a esta, em uma espécie de plano de fundo,
estávamos todos escrevendo, desenhando e pintando as paredes daquela casa.
Eu e ele escrevemos juntos, uma frase que hoje fica tatuada em mim.
“Família é quem leva você para beira quando você começa a afundar.”
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